O pobre é encarado como personagem-suporte que dá arrimo a interesses de terceiros, seja por parte de políticos tentando seduzir eleitores através de discursos demagógicos, seja através da igreja procurando engordar sua conta bancária, ou por qualquer setor social interessado em realizar suas pretensões mesquinhas.
No Brasil, dá-se preferência ao uso da violência sumária quando o assunto é de natureza social e causa desconforto às classes dirigentes. Veja o caso de Canudos, por exempo. Bastava uma reforma agrária regional para resolver o problema de milhares de famílias sem terra e sem trabalho, acabando por resolver outros problemas sócio-econômicos do Nordeste, que já sofria com o deslocamento de parcelas consideráveis de sua população para o eixo econômico dos Estados do Sudeste. Entretanto, o governo optou pela carnificina e a pulverização do povoado sertanejo em nome da "ordem e do progresso".
Existem alguns equívocos que norteiam a questão sobre a reforma agrária no país. O primeiro, é a concepção errônea de que a estrutura agrária deficitária é a causa de todos os males sociais brasileiros; o segundo, é creditar todas as esperanças nas grandes desapropriações latifundiárias e a posterior repartição de milhões de hectares de terras entre milhões de famílias de trabalhadores, acreditando ser este o método milagroso que irá sanar todos os problemas sociais do país.
As mudanças no cenário sócio-econômico que possibilitaram a atual estruturação social ocorreram há pouco menos de um século. Após a deflagração da 1ª Guerra Mundial o país passa por importantes mudanças que acabaram por influenciar todos os ramos da vida nacional, fosse este político, econômico ou até mesmo cultural. A incipiente industrialização por substituição de importações é o marco inicial da transformação do capitalismo brasileiro, até então, dominado pelos "donos" da economia agrícola. Com o surgimento de uma burguesia industrial, o capitalismo nacional se diversifica, o que não significa o desaparecimento da aristocracia rural, ela apenas se mesclou com as demais classes que comandam a vida nacional, como a econômica e a política. Os interesses e as alianças econômicas se fortalecem e passam a atuar em conjunto. O país passa por um violento processo de urbanização em virtude do deslocamento do eixo de produção do campo para as cidades, levando consigo um enorme contingente populacional. " A agricultura livrou-se de muito encargos que encareciam a mão-de-obra (moradia, água, pastagens, direitos trabalhistas) e recebeu a ajuda da indústria em disponibilidade de insumos (sementes, adubos, agrtóxicos, equipamentos de transporte, assistência técnica). Tais mudanças não aconteceram sem conflitos e dificuldades.(...) Foram criadas as ligas camponesas e aumentou o número de processos judiciais, até chegar-se à promulgação do Estatuto do Trabalhador Agrário, em 1963. Depois tudo acabou em abril de 1964. Como de outras vezes na história, naquele ano fez-se uma "revolução de cúpula" para impedir algumas "reformas de base", inclusive a reforma agrária".
O grande empecilho para a efetivação de uma reforma agrária real não é o latifúndio, mas o modelo capitalista brasileiro. É inato ao empresariado o sentimento de posse sobre a massa trabalhadora, que, somada à terra, representam as duas maiores riquezas dessa classe. Portanto, não se deve esperar que eles aprovem a expropriação de seus patrimônios com votos no Congresso ou instiguem seus caudatários para tal. O programa governamental para a reforma agrária está mais preocupado em fortalecer o atual modelo de produção do que com os assentamentos. Para amenizar a penúria de grande parte da população, o governo lança mão de programas sociais até que as relações de produção se aperfeiçoem e as promessas de maior oferta de empregos e melhorias nas condições de trabalho se concretizem (o que evidencia o interesse de manter a massa trabalhadora presa ao meio urbano). Mas as promessas continuam sendo apenas promessas...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário