sábado, junho 28, 2008

A injustiça num sachê

Junto com os primeiros dias de junho vinha o frio e o alvorecer preguiçoso. Acordar naquelas manhãs singulares era tarefa hercúlea. Mas quando as mães estão por perto a nos vigiar, não há muito o que fazer senão aceitar e marchar. Cabisbaixo, eu seguia o caminho das pedras.

O colégio era curioso; parecia mais um templo cujos sacerdotes, também conhecidos como professores, dedicavam horas a adorar o seu deus, também conhecido como vestibular. De um lado, existiam os fiéis mais incautos, presas fáceis para os catequizadores. Do outro, vagabundos natos desinteressados de toda aquela conversa fiada. Eu me incluía nessa segunda categoria.

Eu e meus colegas não tínhamos muitas ambições senão dar algumas risadas e voltar para casa a tempo de pegar o almoço quente. Eis que, num desses acessos de "happening" coletivo que costumam ruir com a mesma velocidade com que surgem, lembro-me que alguém teve a idéia de fixar um absorvente na televisão do pátio. Inspirado de um especial senso estético, achei que deveria concluir a obra inacabada e conferi-lhe um tom avermelhado graças a um sachê de "Katchup" que tinha em mãos.

Quem não gostou muito da história foi a diretora V., eterna aspirante a professora de gramática. Ela já não me tinha em alta estima, e, sensibilizada pela gravidez de sete meses, declarou soberana que minha sentença seria a suspensão imediata por dois dias. Os demais passaram ilesos. Quem um dia disse que a justiça é cega nunca esteve diante de uma diretora grávida e sedenta de vingança.

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