sexta-feira, julho 16, 2004

Sobre frangos e chaveiros

Ontem fui convidado a comparecer em um churrasco e fui incumbido de levar uma peça de carne e um refrigerante. O dilema é que eu não estava achando o chaveiro em que situa-se a chave necessária para abrir minha gaveta-forte-knox onde reside toda a minha fortuna. Portanto, não pude adquirir os mantimentos necessários e apelei para a minha avó que me descolasse uma pecinha de carne. Quanto ao refrigerante, aí já era pedir demais.
A caminho, eu decidi contar duas versões do ocorrido: a verdadeira e a desculpa. A verdadeira, já mencionada acima, deveria ser dita primeiro, já que todos achariam que tratava-se de uma descarada desculpa. A desculpa eu tratei de elaborar com delicada minúcia humorística. Falei que era dia de Santo Agostinho e, como de costume, essas festividades costumam esvaziar o estoque de refrigerantes da cidade, tamanha é a voracidade dos fiéis por "bebidas gaseificadas". Mas tudo transcorreu bem e ainda pude salvar o franguinho da minha avó sorrateiramente, já que ninguém havia se interessado por ele e o pobre pollo jazia solitário num canto esquecido da geladeira.
De volta para casa tentei achar esse chaveiro fugidio por todos os cantos mas fui resignado pelo cansaço de um dia regado a muito futebol e Sol equatoriano. Minha última ação antes de pranchar na cama foi jogar a camiseta na cadeira-cabide do meu quarto, quando, como num passe de mágica de forças do além, uma bermuda cai no chão fazendo o barulho de um chaveiro escondido em seu bolso calado. Como se alguém estivesse dizendo: "Pronto a tarefa já está cumprida, pode voltar a sua vidinha rotineira de abrir e fechar gavetas, cadeados e portas". Talvez isso me leve a gastar esse dinheiro que foi poupado em algo mais duradouro que uma peça de carne e um refrigerante, o que me remete a célebre frase: "as respostas estão no chão, você tropeça e acha a solução". De fato, é o chão o limite e não o céu.

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