Impor a obrigatoriedade do voto e medidas punitivas aos que se abstém de tal incumbência é uma arbitrariedade. Com esse ato o Estado se auto-intitula uma instituição onipotente e indiferente ao direito de liberdade inato ao cidadão, afinal, obrigar alguém a executar determinada tarefa é uma ato imperativo.
Aqueles que afirmam que o voto facultativo "despolitizaria" o povo brasileiro, estão cometendo um grave erro de retórica. Como seria possível despolitizar um povo já despolitizado? Em um país de penúrias exacerbadas como o Brasil onde parcelas consideráveis da população ainda passam fome, ser despolitizado é, no mínimo, o padrão. Mesmo nas camadas mais jovens, nas quais reside "o futuro do país", o desinteresse pela política é tal que chega a atingir a casa dos 78% de descrentes segundo dados de uma pesquisa ilustrativa realizada com pessoas entre 15 e 24 anos.
Outro argumento usado pelos defensores do voto obrigatório é o fato de que, supostamente, a não-obrigatoriedade do voto levaria a um sério "enfraquecimento da democracia". Mas que democracia forte é essa que usa das táticas mais baixas para conquistar, ou manter o seu lugar ao Sol no mundo político? Como ocorreu certa vez em uma eleição em Salvador, quando, por um simples acordo entre o candidato da situação e as empresas de ônibus, os ônibus encarregados das áreas de redutos eleitorais do candidato da oposição simplesmente não passaram e os eleitores não tiveram como votar.
O brasileiro está cansado de presenciar exemplos de sordidez dos mais variados tipos vindos de representantes da classe política. A estória se repete desde que começou a se esboçar a política no país, nos primórdios do período colonial. O político ladrão já virou figura folclórica e habita o imaginário de crianças, jovens e adultos ao lado de chapéuzinho vermelho e companhia. Isso contribui ainda mais para afastar o eleitor da esfera política. Somados o desinteresse, o descrédito e a arbitrariedade do voto obrigatório, o eleitor não compromtido com a política acaba vendo tudo isso com um enfado que deve ser resolvido da forma mais rápida possível, então, vota no candidato que lhe pareceu mais engraçado na propaganda eleitoral e sai exultante do local de votação por ter cumprido o seu dever de cidadão.
O melhor a fazer com esse tipo de eleitor é dar-lhe a opção de escolha entre votar ou não votar e, com isso, possibilitar que apenas pessoas com interesse político participem das eleições. O que não significa dizer que serão eliminadas práticas de trapaça eleitoral como a notória compra de votos. Não, tais logros pertencem à vida política. Mas, ao menos, muitos candidatos deixarão de ser beneficiados em virtude de seu semblante humorístico.
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