terça-feira, janeiro 18, 2005

Orkut: Vida virtual repleta de bizarrices

Eu sempre achei Orkut uma merda, mas nunca tive paciência de escrever a respeito. Só agora, com bastante tempo livre, eu finalmente consegui organizar minhas idéias para passá-las pro computador. Esse texto é exclusivamente opinativo. Caso você se sinta ofendido, você é um retardado.

Comunidades virtuais, na minha opinião, nunca foram muito saudáveis. Fóruns de discussão, Chat Rooms, Instant Messagers, Blogs e Flogs, todos eles são instigadores da mentira. Um dos problemas aparece quando o acúmulo de mentiras vai crescendo, crescendo, até eclodir num universo preocupante: a irrealidade. Na internet, existe a possibilidade de ser o que não se é, ou simplesmente não ser o que se é. Eu sei que esse papo de criação de "heterônimos" no mundo virtual é deveras mastigado. Quem nunca ouviu aquelas frases "atrás de uma tela de computador, pode-se tudo" ou "pode ser o gordo mais bizarro, se ele tem mais de 1,80m vai dizer que é alto e forte". Talvez essas afirmações sejam apenas desculpas para os "internetófobos" (fobos no sentido de repulsa e não medo) como eu justificarem seu "pé atrás" com a internet. Talvez, elas sejam ainda as críticas de um pessoal que não tem acesso ou facilidade para lidar com a internet. Ou talvez, elas simplesmente sejam verdades tão sincera, que chegam a ser universais. Bom seria se essa descrição mentirosa do próprio corpo fosse o ápice dos devaneios. Comparado ao real problema, isso não é nada. E qual seria o real problema?

Recentemente (acredito que em 2004), surgiu na internet um sistema de comunidades on-line associado ao site de busca Google (www.google.com), a rede orkut. Basicamente, o orkut é uma rede interligada de registros humanos que incentiva "encontros" entre pessoas de interesses semelhantes. Lá, existe um banco de dados a respeito de cada usuário, permitindo a outros entrarem em contato, criando-se assim vínculos virtuais entre os mais variados indivíduos. É um berço para a proliferação desses heterônimos. Imagine uma vida virtual baseada em mentiras das mais diversas, vivendo de contradições extremas, sem restrições para o invencionismo. Meio caótico, não acha?

Entretanto, o que me preocupa mesmo sobre o orkut é essa vida virtual que eu citei. O fato dela ser baseada em mentiras, pouco importa agora. O importante é que, através do orkut, pode-se criar uma rotina totalmente alheia ao mundo real e atrelar-se a ela da mesma forma com a qual estamos ligados à vida de fato. Não seria forçar a barra dizer ainda que pode-se estar mais intimamente relacionado à vida virtual do que se está a real. Isso seria puro e exclusivo escapismo, e de fato acontece. Se alguém escapa da vida real, é por que não tem a força de vontade necessára para enfrentar seus reais problemas, ou acha que eles são grandes demais para serem resolvidos. Essas atitudes só levam à suprimir o pouco entusiasmo que resta. O "orkuteiro" que adere à vida virtual exclusiva torna-se um isolado da sociedade, um hermitão urbano. E não só para este tipo de pessoa o orkut cria uma vida virtual. Por mais "descolado" e resolvido que se possa ser na vida real, através de comunidades virtuais de características tão complexas, qualquer um pode facilmente desenvolver uma "irrealidade paralela" e tratá-la com igual importância a dispensada à realidade de fato.

E quais aspectos dessa vida virtual a faz tão preocupante assim? Pense na sua vida real. Se você está andando na rua e cruza com um estranho, ele tem como saber quem você é? Ele sabe qual sua comida preferida, qual seu direcionamento sexual, o que você gosta de fazer no tempo livre, que tipo de coisas você gosta e desgosta? Ele sabe seu nome, sua idade, onde você nasceu? Não. No orkut esse "anonimato" existe, mas nem todos (pra falar a verdade, muito poucos) optam por ele. Ao ler a descrição de um usuário qualquer, um outro consegue uma infinidade de dados à respeito do primeiro, de imediato, sem qualquer tipo de interação prévia. Os encontros são muito mais diretos e abertos. É um grito para o mundo "Este sou eu!", uma super-exposição. Qualquer pessoa no mundo inteiro pode saber quem você é, caso seja membro do orkut. É uma total privação de privacidade. Por isso eu não aderiria à rede Orkut. Essa situação, para mim, é extremamente incômoda. Porém, para outras pessoas, ela não é. Parece até que expôr-se tornou-se um vício. Até por este motivo, surgiram esses sistemas de "Personal Big Brother". Pra quem não sabe, tais consistem da mesma idéia básica do programa "Big Brother", da Globo: Espalha-se um número "n" de câmeras pela própria casa, para que outras pessoas na internet vejam como é a sua vida. Entretanto, na vontade de agradar os outros, o usuário do Personal Big Brother pensam duas vezes antes de fazer as coisas; "será que quem está vendo vai gostar se eu fizer isso? Acho que não... melhor não fazer então". O palco está armado: o singelo ser humano virou um coadjuvante em sua própria vida, vivendo sob a vontade de outros. Até o livre arbítrio foi para o espaço. Lógico que estou criando uma imagem um pouco forçada, mas a semelhança dela com a real metáfora do Big Brother de Orwell é bem precisa.

Como se tudo isso não bastasse, qualquer tipo de comunidade pode ser criada no Orkut. Até comunidades nazistas existiram lá (isso se não existem ainda), ou ainda algumas que incentivavam (ou incentivam) práticas das mais bizarras e/ou deploráveis, como fascismo, racismo, violência, suicídio, pedofilia (pedofilia de verdade, por que com 14 anos já sangra, faz sombra e atravessa a rua sozinha), evangelismo, dentre outras. Eu acredito que um caldeirão tão grande de ideologias aberto ao mundo todo não seja algo tão "inofensivo". Fechando o quadro, cito o fato de que, enquanto usuário do orkut ou do G-mail (sistema de e-mail da Google), o pessoal desse "mero" sistema de busca tem acesso também à todos os seus dados, mensagens (abertas ou privadas), e-mails e qualquer outro tipo de informação que você propagar pela internet. Eu não quero entrar nesse assunto, por que já diz respeito à teoria da conspiração e isso já é outro tipo de pano pra manga.

Comunidades do orkut são medidores de mediocredade. Criando o que se quer e postando sem qualquer restrição, portas se abrem para os mais diversos tipos de futilidades como "Eu já machuquei meu braço", "Eu já fui traído" ou ainda "Eu gosto de queijo minas". Pior do que essas, só aquelas "Eu odeio orkut". Se você odeia de fato, por que é membro, seu débil mental? A mediocridade exposta no orkut é um reflexo da mediocridade da maioria dos membros. Indo além, digo que essa idiotice não restringe-se apenas ao sistema em questão, sendo assim a imagem clara da mediocredade de grande parte da internet e, inexoravelmente, de seus usuários. A esmagadora maioria da informação disponível on-line é lixo, pelo menos intelectualmente falando. E para este lixo, sempre existe um bossal por trás de uma máquina proferindo futilidades.

Lembro por último que esta é uma visão pessoal sobre o assunto e se você encarar qualquer pensamento meu como ofensa, o problema é seu. Não vou dizer que o Orkut é de inteiro ruim, existem comunidades decentes com discussões produtivas, mas o lado bom posa inofensivo frente às "desavenças" que eu tenho com o sistema.

Nenhum comentário: