Eu fico revoltado com essa prática dos bares de cobrar 10% sobre o preço dos produtos consumidos. Eles já enfiam a faca na cerveja, enfiam a faca nos lanches, enfiam a faca no Couvert e mesmo assim tem a cara de pau de cobrar 10% da conta como "Taxa de Serviço". Qualquer ser humano em sã consciência sabe que isso é praticamente um estupro. Pior, só se colocassem uma faixa do lado de fora do bar, algo pra deixar bem claro que você está sendo lesado inescrupulosamente:
"Nós cobramos R$ 3,20 por uma garrafa de Itaipava sendo que você, que nem bar tem e sendo assim não consegue descontos, compraria no distribuidor de bebidas por R$ 1,18. Como se isso não bastasse, você ainda paga 10% sobre o preço total dos produtos consumidos, um valor camarada para o garçom levar a cerveja até sua mesa e abrir (tarefa dificílima), um trabalho pelo qual ele já recebe para executar.
Atenciosamente
A gerência
PS: Não esqueça de deixar R$ 2,00 pro cara que olha os carros não riscar a lataria daquilo que você chama de automóvel. "
Então, ao ler meu protesto, o mega-empresário do ramo de casas-de-entretenimento-noturno-baseado-em-cerveja-e-conversação-improfunda (vulgo bar) responderia: "bom, mas nós precisamos pagar os garçons". Não discordo que isso é de fato necessário. Os garçons trazem a cerveja até você e isso, apesar de simplório, é importante, quase louvável. Mas o problema não reside aí. Conheço alguns donos de bares e também muitos garçons. Os amigos que nos servem o alcool não chegam nem a sentir o cheiro dessa grana. E mesmo quando o repasse existe, tenha certeza que ele não é integral. Como se isso não bastasse, alguns ainda sofrem a humilhação de ouvir que em seus salários fixos e imutáveis já está incluso os 10%, ou seja, não importa que durante um mês, o consumo médio de cada mesa subiu 15%, o salário continuará sendo o mesmo. É a clássica exploração sobre o trabalho assalariado, a "mais valia", como diria Marx. A única coisa que falta para a definição estar completa é imbutir a Taxa de Serviço no preço da cerveja (que por sinal, já é cara). Além disso, lembro-me do meu pai dizendo que "esse negócio de cobrar 10% surgiu de uns tempos pra cá...", ou seja, até há algum tempo atrás, garçom vivia de vento, já que não existia Taxa de Serviço a ser cobrada.
Veja bem, leitor: Eu não tenho problemas com gorjeta, sabe por quê? Pelo simples fato delas não serem praticamente obrigatórias. Teoricamente os 10% não são obrigatórios. Pelo Código de Defesa do Consumidor, não existe nada que obrigue o freguês a pagar a Taxa de Serviço (assim como Consumação-Mínima é proibido, mas isso já é outro assunto). Entretanto, existem outros artifícios além daqueles previstos pela constituição. Constrangimento, cara feia, truculência ou ameaças do tipo "da próxima vez, você pegue a cerveja no balcão" ou "da próxima vez, agente não garante a qualidade da sua cerveja" são armas poderosas para convencer qualquer um a desembolsar o dinheiro do cigarro para pagar os 10%. Mesmo que ninguém mais saiba que sua mesa não está sendo servida, o simples fato de você saber já é motivo para se sentir acanhado dentro do bar. Pior ainda se você tiver com uma "acompanhante" do lado. Se a Taxa de Serviço fosse de fato gorjeta, ou seja, opcional, não viria computada na conta.
Eu deixaria uma gorjeta sem problemas caso fosse bem atendido. Entretanto, eu sou contra. Não irei precisar mendigar na rua, vender meu carro ou fazer um empréstimo para saldar os 10% que eu paguei. O motivo da minha insatisfação é saber que essa gorjeta não vai pro cara que me serviu. Além disso, essa obrigatoriedade fere diretamente meu senso de liberdade, minha "capacidade de escolher". Não digo que não pago, pois, visto os motivos acusados acima, eu o faço. Só digo que sou contra.
Entrando num campo mais reduzido, faço uma pequena análise do lugar onde moro. Pra quem não sabe, resido na Cidade Universitária, do lado da UNICAMP, em Campinas. É de se esperar que por aqui exista uma quantidade considerável de repúblicas e, consequentemente, universitários. Universitário, por definição, não tem grana (salve excessões). Qual é o propósito de meter a mão o bolso deles desse jeito? Os caras já não tem dinheiro, e ainda por cima o bar surrupia-lhes o Bandex da Segunda feira? Compreensível? Sim. Justificável? Não. Por sorte, aqui nas redondezas existem alguns bares interessantes onde se pede uma garrafa de Itaipava a um preço inteligente (R$ 2,00) e não se paga 10%. Mas o que fazer nos domingos, quando bares como esse não abrem? Apela-se para os butecos, aqueles de beira de estrada, em quebradas inimagináveis, onde não se pode ter certeza sobre sua própria segurança. Nomes bizarros do tipo "bar do frango" ou "Bar e Mercearia do Nenê" são as salvações na hora do aperto. Mas quem quer beber em um lugar vazio, feio, sujo e onde mulheres não vão, já que só existe banheiros para homens? Eu até bebo, mas nem todos os meus amigos são como eu.
Acho que realmente aquele "logo" que eu vejo em postos de gasolina está certo. "Legal é beber com segurança. Legal é beber em casa". De fato, se for pra pagar R$ 3,20 numa garrafa de cerveja popular, prefiro torrar minha grana em engradados e sacos de gelo e fazer a festa em casa mesmo. Depois cobro "dez conto" (o mesmo que se paga em um bar, sendo que neste caso bebe-se muito mais) da galera e "é nóis".
deus salve os churrascos, happy-hours e casamentos.
domingo, janeiro 16, 2005
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