sexta-feira, março 11, 2005

Blumer, Riggins e Halbwachs. O interacionismo simbólico e a questão do objeto

Em seu ensaio sobre o que ficou conhecido por interacionismo simbólico, o sociólogo Herbert Blumer enumerou três aspectos da interação do homem com o mundo. A primeira revela que os seres humanos absorvem os significados que o mundo lhes oferece. A segunda, já estabelece que os significados partem do convívio social com outras pessoas. A terceira, por sua vez, admite que esses significados surgem através de um processo interpretativo administrado pelo indivíduo a partir do momento em que este se relaciona com os elementos a sua volta. Aí se insere o aspecto psicológico, que engloba o campo das sensações e sentimentos de forma panorâmica como fatores modeladores do processo interpretativo.
Mas esses são aspectos corporificados na figura do indivíduo e será a vida em grupo o ponto-chave para que essas devidas interações ocorram. A vida em grupo possibilita a interação entre seus membros, os quais estão sempre a modificar-se em função do convívio social e de observações decorrentes desse mesmo convívio Essa interação social produz símbolos e significados, gestos e vocabulários, línguas e dialetos; toda uma gama de linguagens que tem por função permitir a compreensão entre os diferentes seres que compõem um determinado grupo social. O que não significa, porém, que todos os seres humanos irão encarar o mesmo gesto da mesma forma. Tocar a cabeça de alguém como gesto de perdão pode não ser uma boa idéia quando essa cabeça for a de um budista, uma vez que isso interromperia o “chácra principal”.
A vida em grupo é um complexo ato de ajustes do ‘interpretar’ e constantes re-definições de como ‘agir’, o que acaba por definir a conduta pessoal de cada indivíduo perante o grupo. Vale ressaltar que esse é um processo em constante formação, no qual a visão do sujeito em relação ao objeto apresenta-se de forma amplamente mutagênica.
O termo objeto, segundo Blumer, não se limita ao caráter estritamente material e pragmático da palavra, mas apresenta tudo aquilo que for possível de ser indicado. Os objetos classificam-se em três categorias: objetos físicos, como telefones, almofadas e lápis; objetos sociais, como mãe, pai, reis, engenheiros e objetos abstratos, como amor, doutrinas filosóficas ou nobreza. Um objeto apresenta-se de diferentes formas para diferentes observadores, ao passo que uma ponte não será a mesma na visão de um engenheiro em relação a visão de um transeunte. Mais ainda, os objetos passam por constantes ajustes com o passar do tempo e a dinamização dos grupos humanos. O corpo humano é encarado de uma maneira completamente diferente hoje, do que na época dos aventureiros hereges que desafiavam a igreja roubando corpos no cemitério para dissecá-los e melhor compreende-los.
A noção de objeto, por outro lado, já é outra para os sociólogos Stephen H. Riggins e Maurice Halbwachs. Ambos consideram o objeto em sua forma física, portanto, telefones, almofadas e lápis seriam perfeitamente reconhecidos como objetos, mas não pais e mães, e, muito menos, nobreza. Mas isso é possivelmente uma mera convenção estilística. O interessante é os dois fazem uma análise extremamente oportuna entre os objetos físicos, sociais e abstratos. Eles acreditam que os objetos físicos tem muito a revelar sobre o indivíduo que os detêm, sendo possível desvendar muito a seu respeito apenas observando a mobília de sua casa. Stephen H. Riggins escreveu a respeito: “qualquer objeto disposto em áreas públicas da casa carrega mensagens”. “(...) as pessoas sempre são praticamente percebidas em meio a objetos e em vários graus de associação com eles”. Maurice Halbwachs parece ter a mesma postura de Riggins: “(...) Nosso entorno material leva ao mesmo tempo nossa marca e a dos outros”. Enquanto para Riggins, os objetos podem revelar até mesmo a posição social do indivíduo de acordo com o seu respectivo grau de status, Halbwachs acredita que os objetos carregam mensagens sentimentais. Objetos como fotografias, por exemplo, remontam à lembrança de parentes, amigos, situações as mais variadas já vivenciadas e despertam “ene” tipos de sensações. Riggins e Halbwachs não desprezam a noção de objetos sociais e objetos abstratos, e sim, atentam para o fato de que ambas as categorias podem ser desvendadas a partir da observação dos objetos físicos pertencentes a determinado indivíduo que se deseja analisar.

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