segunda-feira, agosto 08, 2005

O pensamento chinês

O Taoísmo se baseia no livro Tao Te Ching, de autoria de Lao-Tsé. É uma das religiões mais antigas e importantes da China, sendo considerado, inclusive, uma das bases do pensamento chinês. O Tao Te Ching é uma das obras filosóficas mais importantes da humanidade, tendo sido escrito por volta de 600 a.C. Existem muitas lendas nebulosas que envolvem o nome de Lao-Tsé que variam desde seu suposto encontro com Confúcio (outro grande sábio chinês), passam por especulações acerca de sua vida ter durado mais de duzentos anos e chega-se, até mesmo, a se questionar se ele realmente teria existido.
O Taoísmo, sendo uma tradição voltada ao misticismo, procura observar a natureza para descobrir o caminho, ou o Tao. A felicidade humana e a realização plena, segundo os taoístas, é atingida quando o homem segue a sua intuição e age espontaneamente, seguindo assim a ordem natural das coisas (o fluxo do Tao). Aquele interessado em trilhar esse caminho, não o poderá fazer partindo do conhecimento racional, mas utilizando-se do seu próprio conhecimento intuitivo. Os primeiros versos do Tao Te Ching já demonstram um certo repúdio ao pensamento racional: "O Tao que pode ser descrito não é o Tao real".
Originalmente, Tao significava "o caminho". É o caminho do universo, a ordem da natureza. Atualmente, o Tao é visto como a realidade última, logo, indefinível. Entre os chineses, o Tao adquire um significado intrinsecamente dinâmico; seria algo como a essência do universo, um fluxo contínuo de mudanças que envolve todas as coisas.
A característica principal do Tao é o movimento cíclico, através do qual tudo se movimenta constantemente. "O retorno é o movimento do Tao". Isso significa que absolutamente todos os padrões de mudanças seguem leis de ir e vir, de expansão e contração. Essa idéia fica bem clara ao se analisar o antigo diagrama chinês chamado T'aichi T'u, ou "Diagrama do Supremo Fundamental". O diagrama se divide em duas figuras opostas: o yin e o yang, que representam os opostos extremos que se auto-complementam de modo a atingir o equilíbrio pleno. Dessa maneira, o yin, ao atingir o seu extremo, retrocede para dar lugar ao yang. Toda vez que algo atinge o seu ponto extremo, surge em si a essência do seu oposto. O equilíbrio, meta para uma vida saudável, se torna possível através da combinação harmônica entre yin e yang.
Os movimentos do Sol e da Lua, a mudança das estações do ano, o crescimento e a decadência inerente à natureza, são todos padrões de mudança que sempre pareceram muito familiares aos chineses, sobretudo por se tratar de uma nação de agricultores. São todos expressões da inter-relação entre yin e yang. A relação dos chineses com a alimentação não poderia ser diferente. Eles acreditam que uma dieta saudável também requer o balanceamento de elementos alimentares yin e yang.
A medicina tradicional chinesa também se baseia nessa noção de equilíbrio. A doença, portanto, seria uma perturbação que acaba por romper esse equilíbrio. O corpo humano é dividido em partes yin e yang, da mesma forma que os órgãos assim também o são. O equilíbrio entre todo o corpo é mantido através de um fluxo contínuo de Ch'i (energia vital) que percorre um sistema de pontos específicos, os quais são utilizados pela acupuntura. Quando esse fluxo é bloqueado, o corpo adoece. Contudo, ao se posicionar agulhas nesses pontos através da terapia de acupuntura, o fluxo pode ser restabelecido.
É interessante ressaltar que esse contraste entre yin yang, traduz até mesmo a contradição entre as duas correntes dominantes no pensamento chinês: o Taoísmo e o Confucionismo. Veja que essa contradição não significa necessariamente uma disputa de influências, mas apenas reflete raciocínios diferentes. Enquanto o Confucionismo é racional, ativo e dominador, o Taoísmo privilegia aquilo que é intuitivo, místico e dócil. O Confucionismo busca estabelecer um sistema de educação com imposições de limites ao comportamento social, estabelecendo uma base ética para o sistema familiar, ao passo que o Taoísmo se concentra na observação da natureza, na meditação e no saber intuitivo.
Aqui não há espaço para o maniqueísmo falso-moralista tão presente no ocidente. Não cabe julgar se é o Confucionismo é "bom" ou "mau" porque impõe restrições à liberdade individual, ou perguntar o mesmo sobre o Taoísmo por causa de sua recusa ao pensamento racional. Cabe, antes, saber que esses são dois aspectos complementares de uma mesma realidade. A cultura chinesa tem mais de quatro milênios de existência, assim como sua filosofia.
Essa filosofia sempre apresentou dois pontos complementares. Os chineses contavam com escolas filosóficas baseadas na vida em sociedade, nas relações humanas, nos valores éticos, morais e referentes ao governo. Mas esse é só um aspecto do pensamento chinês. Para complementá-lo, existe o lado místico. Este avalia que o objetivo último da filosofia deveria ser o alcance de um plano de consciência mais elevado, o qual transcenderia o próprio mundo social e cotidiano.

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