domingo, julho 24, 2005

comecinho de conversa.

beatriz nunca tentou entender porque as músicas de juventude lembravam coisas tão tristes. não podia ser nostalgia, era só uma garota. tinha medo de ir dormir com quarenta anos pesados e as malditas canções alegres nos sonhos, nos sofás, nas rugas amargas. aliás, temia tanto o amargo, que carregava saquinhos de açúcar aonde fosse.

gostava de um estudante de cinema; passou horas assistindo filmes preparados numa lista que causasse boa impressão (aqueles preto e branco, referências francesas, italianas e em inglês os clássicos), achava que facilitava as coisas quando ia sozinha às sessões e que se distraía se fumava um cigarro longo.

num filme iraniano, teve sorte de sentar-se ao lado dele e, sem as músicas das suas memórias, beatriz cochilou. acordou devagarzinho, assustada: o rapaz sorria.

saíram para tomar um café, ele não gostava nada de cinema (beatriz usou três saquinhos doces e sentiu-se idiota).

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