beatriz nunca tentou entender porque as músicas de juventude lembravam coisas tão tristes. não podia ser nostalgia, era só uma garota. tinha medo de ir dormir com quarenta anos pesados e as malditas canções alegres nos sonhos, nos sofás, nas rugas amargas. aliás, temia tanto o amargo, que carregava saquinhos de açúcar aonde fosse.
gostava de um estudante de cinema; passou horas assistindo filmes preparados numa lista que causasse boa impressão (aqueles preto e branco, referências francesas, italianas e em inglês os clássicos), achava que facilitava as coisas quando ia sozinha às sessões e que se distraía se fumava um cigarro longo.
num filme iraniano, teve sorte de sentar-se ao lado dele e, sem as músicas das suas memórias, beatriz cochilou. acordou devagarzinho, assustada: o rapaz sorria.
saíram para tomar um café, ele não gostava nada de cinema (beatriz usou três saquinhos doces e sentiu-se idiota).
domingo, julho 24, 2005
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