
Pedro Juan Cabalero demarca a fronteira entre Brasil e Paraguai. Na verdade, a simples travessia de uma rua delimita a fronteira entre os dois países: de um lado da rua, Paraguai, do outro, Brasil. A fronteira ainda não traduz em todas as cores o que realmente vem a ser o país vizinho, exceto por um aspecto: o shopping china. O nome dispensa maiores explicações. É fato consumado que a economia paraguaia mantêm forte tradição na comercialização de mercadorias importadas (originais ou não) sem o pagamento de impostos. É celebre a frase "made in Paraguay" quando se deseja denotar um determinado produto de forma desdenhosa. O Paraguai é visto como uma espécie de filho bastardo, um prostituto do mercado - "pirata" para os conservadores. Fico profundamente consternado ao saber que o meu país teve grande culpa no cartório e contribuiu decisivamente para que o seu vizinho atingisse esse posto malogrado. A Guerra do Paraguai foi decisiva para selar o destino do país que se desenvolvia autonomamente, pacificamente e independentemente. É claro que isso incomodava profundamente os planos ingleses imperialistas para a América Latina, e causava um comichão fervoroso em Brasil, Argentina e Uruguai pela disputa de terras e influência na região do Prata. Fico duplamente consternado ao comprovar (mais uma vez) que a história é contada segundo os interesses de quem a conta. Ao consultar o "almanaque" Abril de 1998 estava escrito em letras garrafais que a Guerra do Paraguai fora causada, pura e simplesmente, porque os malvados paraguaios invadiram o pacífico vizinho brasileiro na sanha de conquistar novas terras. Louvados sejam os paraguaios, que estampam o rosto de Franciso Solano López em suas cédulas de guaranis e jamais se auto batizaram "Estados Unidos do Paraguai", como certa vez o fizera os "Estados Unidos do Brasil". Volto ao presente. A influência brasileira é alta: carros com placas brasileiras, pessoas que falam o português além do tradiocional guarani e do castelhano, crianças torcedoras de times brasileiros, supermercados que abrigam guaranis (a moeda oficial do Paraguai) e reais em suas caixas registradoras. Mas algumas mudanças são notáveis. Se nos queixamos dos alarmantes problemas de nosso país, devemos reconhecer que nossos vizinhos talvez estejam em uma situação ainda pior. Para aqueles menos sensíveis à causa alheia, isso poderia soar como um simples desencargo de consciência. Somos pobres, mas, ainda sim, os reis da Boca do Lixo - diriam (traços do individualismo nocivo da sociedade capitalista). A miséria está estampada nessa cidadezinha fronteiriça, seja em suas casas de madeira velha, no comércio miscelânico defendido a unhas e dentes por soldados fardados empunhando escopetas, ou mesmo nas velhinhas que parecem ter chegado com muito esforço nessa fase da vida. Não entrei mais adiante no país para conhecê-lo melhor. Me arrependo. Alguns conpanheiros de viajem que se aventuraram país adentro observaram coisas interessantes. Disseram ter encontrado uma vida cultural muito pobre na capital Assuncion (eu ainda desconfio disso) e, em certo jornal, o Brasil era retratado como o gigante imperialista protecionista. Cada um com suas migalhas. Enquanto o Brasil serve de quintal para as potências do norte geopolítico, faz de seus vizinhos latinos sua zona de influência direta. Ainda é cedo para dizer, seria leviano e irresponsávael de minha parte, mas, ainda sim, algo me diz que um projeto de integração latino-americano em toda sua plenitude ainda está em suas etapas iniciais. Meio que engatinha a passos lentos que ocupam o espaço de décadas.
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