segunda-feira, julho 11, 2005

consideraçoes iniciais

queria falar de alguma coisa com os olhos esfumaçados que a gente fica quando bebe um pouco mais. então é assim, no ouvido ficam em segundo plano a música, as gargalhadas e palavras estranhas de pessoas vizinhas, enquanto você tenta compreender o que é que os lábios em movimento ali, à sua frente, tentam te dizer.
cada frase parece fazer o efeito de um estranho paradoxo que tenta confundir e, ainda assim, explica praticamente tudo. os pensamentos caóticos têm tanta força; você imagina poder falar tudo o que nunca conseguiu.
mas é tudo mentira, sabe ? são as mesmas coisas fingidas e as mentirinhas; os mesmos olhos embaçados da fumaça da nicotina que alguém ao seu lado está tragando. você adoraria poder fumar e ser fotografado em preto e branco, num café na esquina de uma rua qualquer em londres - todas essas babaquices de escritores dos anos trinta. acaba a noite (e a madrugada) com uns cachorros pulguentos que brigam por um espaço aconchegante nos dedos dos seus pés na mesa de um boteco sujo que tem aqueles letreiros amarelos que tanto gosta. o cigarro fica pra depois, porque você já tem problemas demais. a cerveja da pior qualidade dá lugar à cachaça (também da pior), um caderno glorioso sem linhas - não, melhor anotar no guardanapo brilhante pra idéia não fugir de vez (já aconteceu tantas vezes).

o que importa mesmo, no fim de tantas bebidas sentimentais, o copo americano manchado e o porta-guardanapos vazio; é que você finalmente conseguiu explicar o que pulsava ali no seu rosto há dias, essa mesma emoção estranha que te comove ao ver passar velhinhos encapotados em cobertores imundos. enfim, palavras.

Nenhum comentário: