Ignorância v.s. Incerteza

Entende-se por ignorância o ato de não saber, ou mesmo de ignorar o saber. Em casos em que a ignorância é profunda, o indivíduo ignorante nem sequer se dá conta de seu estado de ignorância, como também acredita que as crenças e opiniões que possui para viver e agir são úteis e eficazes, de modo que não existem motivos para duvidar delas e substituí-las.
O estado de incerteza, porém, é diferente. Na incerteza sabemos de nossa ignorância; não sabemos o que pensar, o que dizer, como agir diante de certas situações, fatos ou pessoas. Nosso pensamento é povoado por dúvidas e ficamos perplexos e inseguros.
Nesse sentido, o contato com o novo se estabelece como uma experiência dicotômica: esse contato causa espanto e admiração, de tal sorte que somos obrigados a reconhecer, uma vez mais, que nossas idéias, crenças e opiniões são insuficientes diante da complexidade da realidade. Contudo, o espanto e a admiração estimulam a busca por se conhecer e sair do estado de insegurança. A essa disposição de espírito, dá-se o nome busca pela verdade.
Essa busca começa com a dúvida, a incerteza e o questionamento. Entretanto, é difícil despertar nas pessoas o desejo da busca pela verdade, por mais contraditório que isso possa ser, pois vivemos em uma sociedade que parece acreditar na verdade. Acreditamos nas ciências, temos escolas e lutamos pela educação, recebemos informações de toda sorte e todas as fontes, estamos cercados por editoras, bibliotecas, museus, salas de cinema, fotografias e computadores.
E é precisamente essa enorme carga de informação que tanto dificulta a busca pela verdade, já que ofusca o olhar. Todos acreditam estar recebendo de maneiras diversas, informações científicas, políticas, culturais, artísticas, filosóficas e que essas informações são todas verdadeiras. Por outro lado, bastaria entrar em contato com jornais, escolas e noticiários diferentes durante o curto espaço de tempo de uma semana para descobrir que as "verdades" difundidas em cada meio diferem umas das outras. Existem vários "mundos", ou ao menos várias interpretações a seu respeito, dependendo da fonte de informação em questão. Cada fonte cria para sí o seu mundo específico. E, desse modo, por não haver incerteza, pois as pessoas estão seguras que as informações que adquirem são verdadeiras, logo existe ignorância, uma vez que prevalece a desinformação.