Casou rebuliço a declaração da Ministra Matilde Ribeiro, responsável pela pasta da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, de que “é natural o preconceito de negros contra brancos”, no dia 27 de março. No raciocínio da Sra. Ribeiro e de tantos outros afro-descendentes, parece existir a idéia de que os negros teriam acumulado um crédito revanchista histórico pelas agruras que seus descendentes sofreram ao longo de mais de quatro séculos de escravidão, e, nesse sentido, a naturalidade do preconceito contra os brancos algozes soa como certo tipo de “acerto de contas”.
Infeliz conclusão. Além de ser uma incitação camuflada à beligerância étnica, essa linha de raciocínio reduz a um quadro restrito a tradição histórica da humanidade, em cujo processo de formação das sociedades sempre esteve presente o flagelo da exploração, quer nas sociedades primitivas, clássicas, feudais ou capitalistas. No Brasil, que já nasce sob o signo trágico da exploração, o trabalho escravo com predominância de mão-de-obra negra foi o arcabouço inicial das relações de trabalho forjadas pelo sistema capitalista mercantil.
Não quero com isso dizer que os negros devem se conformar, que “é assim mesmo e devemos tocar pra frente”; não, ninguém se “adapta” a escravidão. Mas o simples fato de ter a mesma cor de pele que um senhor de engenho do século XVI não significa que eu compartilhe da mesma ideologia que ele, e muito menos apóie as relações de trabalho instituídas em sua lavoura. A única semelhança que nos aproxima, não dá aos cidadãos negros o direito de me hostilizar em praça pública. Seria puro levianismo. Pura ignorância. Males estes, que infelizmente parecem ser eternos.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário