
O primeiro crápula que cercou um terreno e disse que aquilo lhe pertencia e contou com pessoas suficientemente ignorantes para acreditá-lo, estaria gerando toda uma sociedade esfacelada como hoje se verifica. Com o surgimento da propriedade, surgem as primeiras organizações sociais, sendo a agricultura o seu sustentáculo. A propriedade trouxe consigo o sentimento de mérito e valor, constituindo o primeiro passo para a desigualdade entre os homens, a media que estabelece-se a noção de prestígio associado ao acúmulo de propriedades, não tardando para ocorrer a exploração do homem pelo homem e, alguns poucos acumularem muito mais do que outros tantos. A linguagem desenvolve-se ao longo do tempo e o ócio disponibiliza tempo para a criação cultural, em que destacam-se, notadamente, figuras mais aptas a determinadas atividades, podendo estas, variar de acordo com a eloqüência, a beleza, a ágilidade e assim por diante, de forma a surgir outro tipo de noção desigual: a vaidade e o desdém seguido da inveja e da vergonha pessoal.
Quando a desigualdade de propriedades já era demasiadamente flagrante e, vendo-se em apuros diante de uma horda descontente, os ricos conclamam todo o resto da população a se organizar sob a égide de leis, perante a qual todos seriam iguais e cooptam parte dos insatisfeitos a agir de modo repressor, fazendo destes, sua guarda pessoal. Já passado o estágio de ricos e pobres, a sociedade configurava-se agora sob a desigualdade entre fracos e poderosos. Não contente com as demarcações geopolíticas e as escassas propriedades de que usufrui, o homem interfere em regiões autônomas, apodera-se de recurssos de terceiros, depõe formas de governo que não satisfaçam os seus corruptíveis interesses, gera guerras sob o pretexto da liberdade; liberdade esta, de impor arbitrariamente com seus tentáculos avarentos, o seu modelo de vida à povos que não requisitaram tal.
O Estado, inicialmente criado para, supostamente, garantir a igualdade entre os homens, cresce como um bolor e apodera-se de seu próprio povo como um rebaho de gado, fazendo deste, o financiador de sua táticas repugnantes por meio de incessantes impostos. Instaura-se o estágio final de desigualdade, os soberanos e os súditos, os senhores e os escravos. Uma vez na mais alta hierarquia social, os magistrados agem na mais clara onipotência, atingindo o grau máximo de corrupção, uma vez que consideram-se inatingíveis perante o julgo das leis. Elegendo-se um magistrado, estará elegendo-se seu futuro senhor escravocrata. Os valores cultuados em sociedade limitam-se a futilidades, já que esta não possui vinculação alguma com a natureza e estimula a perpetuação de artificialismos considerados como dogmas da "civilidade", seja nas relações amorosas, seja nas relações entre as pessoas, que, aliás, baseam-se em conceitos de poder e riqueza. Os sociáveis estão sempre a mercê da opinião dos outros e camuflam-se de forma a adequar a sua pseudo-personalidade aos anseios alheios, acentuando ainda mais a sua falta de autenticidade para adptar-se como um camaleão acuado e sucursal do juízo alheio. O homem acostuma-se com sua condição de escravo, fazendo pouco caso de seus grilhões para manter a limitada liberdade da qual desfruta na sociedade e, ainda pior, ataca àqueles que sublevam-se contra a ordem imposta, taxando-os como loucos, conceito este, muito subjetivo quando confrontado com toda a vertigem da vida em sociedade.
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