Filantropia ou Marketing pessoal?

As empresas multinacionais começaram a crescer de forma acelerada no início do século 20, quando o mundo ainda estava por experimentar os horrores de duas grandes guerras ocasionadas por motivos de natureza econômica. O imperialismo vil das nações européias industrializadas lançou-se ávido por riquezas exóticas situadas nos mais remotos confins africanos e asiáticos, numa ação que acabou por relegar esses povos a um quadro irreversível de miséria e penúria.
De lá para cá, as multinacionais aumentaram vertiginosamente a sua influência no quadro geopolítico mundial. Estima-se que hoje elas detenham cerca de 78% de todo o comércio do planeta. Empresas que alcançam tamanho poderio não medem esforços na hora de investir seus capitais apátridas em iniciativas que tenham por objetivo único, beneficiá-las, sejam estas iniciativas respaldadas ou não pela comunidade internacional. Muitas vezes, não o são.
Não é complicado deduzir que a desigualdade social existente no pleneta deriva de uma série de fatores sócio-econômicos deficientes, em cuja essência estão enraizadas as grandes empresas, orientadas pelos cânones canhestros do capitalismo. Atualmente, contaminados por uma epidemia de fraternidade que misteriosamente tomou conta do empresariado, sobretudo o brasileiro, esses mesmos grupos econômicos estão buscando reformular sua imagem diante dos consumidores, talvez por estarem experimentando o gosto do declínio de credibilidade.
As artimanhas para cativar o consumidor, que atualmente vê com bons olhos empresas ditas "socialmente responsáveis", não são das mais criativas. Normalmente, elas seguem a linha de raciocínio do próprio empresariado, que encara responsabilidade social como sinônimo de doação de dinheiro. Uma empresa, para ser considerada socialmente responsável, deve cumprir compromissos como: manter relações saudáveis com os funcionários, obedecer as leis do país, estabelecer uma comunicação ética e transparente com o consumidor (seria difícil imaginar o mundo publicitário assim), preservar o meio-ambiente, fabricar produtos de qualidade e mais uma série de requisitos preenchem a lista.
Com tantos obstáculos ao lucro desenfreado, não admira ser árdua a tarefa de encontrar uma empresa realmente socialmente responsável. Se dar esmola surtisse efeito, não haveria mais pedintes nas ruas. Antes de as empresas ostentarem suas esmolas filantrópicas para enaltecer seu "marketing pessoal", deveriam recomeçar a maquiagem com uma limpeza na própria casa e tirar a sujeira que faz volume debaixo do tapete.