
A aurora do homem:
É interessante observar que a "aurora" do homem se dá justamente no momento em que ele descobre uma maneira de sobrepujar seus rivais congêneres através do domínio da tecnologia. Uma pincelada célebre sobre a natureza humana, que, desde sua gênese, contrapõe-se a sua própria natureza de forma dialética.
"O meio são as mass-agens"
A introdução de uma nova tecnologia põe em risco a existência de métodos de vida já consumados; reorganiza o meio social sob uma nova perspectiva de valores. A partir do momento em que o homem descobre que o osso pode ser usado como uma ferramenta de múltiplas utilidades, entre elas a caça e a luta contra rivais, a carne é introduzida em sua dieta e os bandos antagônicos são batidos na luta.
Da beleza poética de 2001:
"2001: uma odisséia no espaço" é um daqueles filmes maravilhosamente belos e de uma profundidade poética. Uma obra-prima em todos os sentidos. 2001 apresenta visuais deslumbrantes, isso sem o menor acréscimo de pinceladas digitais nocivas e de efeitos especiais (cuja especialidade, sinceramente, não consigo encontrar). É uma obra que precede a triste ascensão do maquiário digital no cinema, preocupado em produzir uma profusão incontável de imagens fictícias, que, por sua própria quantidade e artificialidade, se mostram logo dignas de reprovação. Lampejo nostálgico. São sinais da triste modernidade, atenta a forma e não ao conteúdo.
O monolito negro:
O enigmático monolito negro de quatro milhões de anos está sempre presente ao longo da caminhada humana. Ele é uma metáfora do desconhecido, do estranho; é o obscuro objeto do mistério. Aparece propositalmente em todos os momentos de transição em que o homem está prestes a dar um passo na direção de algo que desconhece completamente. O monolito viaja através do tempo e do espaço, sempre acompanhando o ser humano em suas incansáveis tentavas de decifrar a realidade última. O mistério está sempre um passo a frente do crivo analítico do intelecto e sua busca obsessiva pelas "verdades".
Da ordem dinâmica do cosmos:
O cosmos é algo fluído, vago e absolutamente dinâmico. Do vazio criador tudo surge e para o mesmo retorna. Nada se perde, tudo se transforma nesse caldeirão de mistérios que é a vida. As imagens maravilhosamente belas do final do filme, mostram sob diversas perspectivas os acontecimentos pertencentes à ordem natural da vida: a gênese, o desenvolvimento e a morte. O paralelo que o filme traça entre esses acontecimentos tanto no plano espacial quanto no plano humano, certamente não é uma mera casualidade. Antes, a mensagem que se passa é que, sendo o homem parte integrante da ordem dinâmica do universo, este também está sujeito às suas leis intrínsecas. O desfecho insólito de 2001, em que o astronauta saboreia a experiência transcendental da viajem por tempo e espaço e se depara consigo mesmo anos e anos mais velho, é, na verdade, uma das idéias da teoria da relatividade de Einstein. Tempo e espaço não existem separadamente, sendo que ambos são meras convenções criadas a partir da mente humana na tentativa de melhor organizar a vida em sociedade. O “tempo” segundo concebemos, não se comporta da mesma maneira em outras regiões do espaço. Se o homem suportasse velocidades próximas a da luz, seria perfeitamente possível uma “viajem no tempo”. Mas, sem maiores pedantismos, o melhor a fazer é apreciar visualmente essa obra-prima em todos os sentidos.
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