Gosto de acompanhar certos escândalos menos por interesse pessoal e mais por vê-los como atestados irrefutáveis da miséria espiritual que assola a nossa chamada sociedade pós-moderna. A bola da vez é o golfista norte-amerciano, Tiger Woods. Naturalmente, a imprensa tabloidesca recebeu o caso com muito gosto, pois sabe que escândalos como esse rendem uma boa monta de dinheiro, dado o apetite mórbido do público por esse tipo de assunto.
Outrora queridinho da América, Woods foi do céu ao inferno por ter cometido adultério. Perdeu patrocinadores, prestígio, dinheiro e está a um fio de perder a custódia dos filhos e a esposa, que pediu o divórcio na justiça. De herói nacional, Woods se transformou num criminoso sexual. O golfista, em defesa, declarou ser compulsivo por sexo e disse que iniciará um tratamento psicológico para se curar, como se ele de fato estivesse acometido de algum tipo de doença.
Veja que a questão aqui gira em torno do fator sexual. Woods “traiu” a esposa porque queria ter relações sexuais com outras mulheres. Do ponto de vista biológico não há nada de errado com isso. O ser humano é um animal – embora muitos se esqueçam disso – e, como todo animal, age no sentido de satisfazer os seus desejos, entre eles o sexo. Se a parceira é fulana, ciclana ou beltrana não importa muito, o que interessa é a satisfação do desejo, o requisito básico da vida de qualquer indivíduo. Por outro lado, do ponto de vista moral*, há aí um tremendo problema. Na nossa cultura monogâmica, exige-se do amor uma fidelidade tal que o sexo com outro parceiro que não o oficial acarreta um sentimento de profunda traição, não só conjugal, mas também de confiança. E é aí que está o impasse: o que é socialmente aceito e exigido pela nossa cultura está em desacordo com a natureza humana. Pobre de nós, pois Freud já observou com muita propriedade que a repressão sobre os instintos é um fator fundamental para a formação de neuroses.
Em outras culturas examinadas por antropólogos etnógrafos, constatou-se um entendimento totalmente diferente ao que nós damos ao sexo. O antropólogo polonês Bronisław Kaspar Malinowski, em seus registros sobre os Trobriandeses, povos nativos da Nova Guiné, observou que eles não só tem uma vida sexual bastante ativa e liberal, mas que também não concebem o conceito de paternalidade. O que dizer então de castidade pré-nupcial e fidelidade conjugal? São coisas desconhecidas. Mais ainda, para eles as crianças nascem por obra de forças superiores independentemente da relação sexual. Talvez Woods devesse se mudar e ir morar com os Trobriandeses, pois lá certamente seria mais feliz.
*Não sem tempo, é preciso fazer uma observação: a palavra “moral”, a rigor, quer dizer quase o mesmo que “ética”. A diferença é que a primeira tem raiz no latim e a segunda no grego. A distinção entre ética e moral se deu a partir do Iluminismo por conta de um fator ideológico.
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